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fotoÀs vezes acusado de provincianismo — por se dedicar de corpo e alma à arte dos barrigas-verdes —, e às vezes olhado com reservas dentro da UFSC, onde lecionou por mais de 30 anos, a verdade é que Lauro Junkes foi o principal expoente de um movimento de autoafirmação cultural que se preocupou em “inventar” e organizar as letras da nossa terra

Lauro Junkes

Maicon Tenfen
Escritor e Doutor em Literatura

fotoÉ triste, mas necessário, escrever sobre pessoas que se foram. Hoje escrevo sobre o professor e crítico Lauro Junkes, que faleceu na última quarta-feira, um dos maiores estudiosos e incentivadores daquilo que, graças à publicação de obras como “O Mito e o Rito” e à organização de dezenas de antologias de autores locais, passamos a conhecer como “literatura catarinense”.

Às vezes acusado de provincianismo — por se dedicar de corpo e alma à arte dos barrigas-verdes —, e às vezes olhado com reservas dentro da UFSC, onde lecionou por mais de 30 anos, a verdade é que Lauro Junkes foi o principal expoente de um movimento de autoafirmação cultural que se preocupou em “inventar” e organizar as letras da nossa terra.

Teve outros interesses acadêmicos, mas o seu legado, sem sombra de dúvida, encontra-se no estudo e no resgate da literatura de catarinenses esquecidos. Depois da aposentadoria, trabalhou com afinco na organização dos Contos Completos de Virgílio Várzea e na Poesia Completa de Luís Delfino, entre outros. Se você é estudante e se interessa por leitura, agradeça ao professor pela redescoberta de todo esse material.

Em meados de 2008, quando o recebi em minha casa, espantei-me ao descobrir seu interesse em meditação e filosofia oriental — acabara de voltar de uma espécie de viagem espiritual que fez à Índia! —, e a serenidade com que tratava o câncer que o acompanhava há anos.

Falava da doença sem nenhuma espécie de ressentimento ou autolamentação, sem fatalismos, sem indagações — “por que logo eu?” — que subentendessem a injustiça do Universo contra a fragilidade de um ser pacífico e solitário. Não tinha medo de pronunciar a palavra “câncer”, fazia isso de boca cheia, sorrindo, e brincava — ou falava sério? — sobre as consequências do problema em sua vida.

— O câncer é meu amigo. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Ele me ensinou a olhar o mundo com pureza.

Trabalhou até o último dos seus dias. Mesmo no leito do hospital, continuou escrevendo resenhas e, através da internet, viabilizando projetos para o aprimoramento e a divulgação da literatura catarinense. Uma vida que merece aplausos e admiração.

Crédito da fotografia: Academia Catarinense de Letras.

 
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