Menu Content/Inhalt
Home arrow Entrevistas arrow Norbert Elias por ele mesmo
Norbert Elias por ele mesmo Imprimir E-mail

capaNeste breve texto o jornalista e mestrando em Educação Tiago Ribeiro Santos apresenta e indica o livro “Norbert Elias por ele mesmo”, que reúne entrevistas e depoimentos deste intelectual alemão, autor de obras importantes como “O processo civilizador”.

Norbert Elias por ele mesmo

Tiago Ribeiro Santos
Jornalista e mestrando em Educação na FURB

capaEstou lendo o livro Norbert Elias por ele mesmo que, como diz o título, é escrito por Norbert Elias (1890-1987), sociólogo alemão de origem judaica. O autor é conhecido principalmente pelas obras A Sociedade de Corte, O Processo Civilizador I e II, Mozart: sociologia de um gênio e A sociedade dos indivíduos. Publicado em 1990, três anos após a sua morte, Norbert Elias por ele mesmo se abre tanto à curiosidade quanto à reflexão dos leitores. Embora traga predominantemente informações da vida particular do autor, o livro contém, além disso, textos relativos a sua perspectiva científica.  Eles esclarecem, acredito, até mesmo aos leitores iniciantes em sua obra, os princípios que contribuem na definição de processo civilizador, de figuração e de outros conceitos eliasianos. Deste modo, o livro está dividido em duas partes. A primeira se chama “Entrevista biográfica com Norbert Elias”, e a segunda “Notas biográficas”.

A primeira parte é composta por uma longa série de entrevistas concedidas por Norbert Elias à A. J. Heerma van Voss e A. van Stolk. Nelas, o sociólogo fala principalmente de sua infância na cidade natal (Breslau), de suas relações familiares e de sua fuga da Alemanha nazista em 1933, exilando-se na Suíça e depois na França. Durante a entrevista, notadamente, Norbert Elias não se deixa seduzir pelas perguntas. Sem abdicar de seu sistema teórico, o autor oferece um interessante exemplo de autoanálise à medida que se apóia em pressupostos sociológicos para orientar sua fala. Assim, evita respostas instantâneas e estabelece diálogos com os entrevistadores, pautando-se pelo sentimento científico que lhe é inerente.

A segunda parte contém reflexões de Elias mais relativas a sua obra, seu sistema teórico, dando a entender as potencialidades e os limites dele, além de outros textos em que o autor comenta suas relações com os sociólogos Alfred Weber (irmão de Max Weber) e Karl Mannheim, ambos marcantes no desenvolvimento do seu pensamento. Poderá se observar, nestes textos, esclarecimentos a respeito da tomada de posição científica do autor.  Elias posicionou-se a favor da criação de uma ‘terceira via’ para além das dicotomias entre objetivismo/subjetivismo, sociedade/indivíduo; estrutura/ação etc. fortemente estabelecidas nas ciências humanas de até então.

Em suma, os relatos de Norbert Elias por ele mesmo nos levam a confirmar a tese de que na base das grandes conquistas do pensamento e da humanidade estão os conflitos tanto individuais quanto sociopolíticos e científicos. No âmbito científico, além de adotar a ‘terceira via’, o autor insistia na possibilidade de analisar sociologicamente aspectos das relações humanas tomando longos períodos históricos como referência. Estas decisões custaram a Elias uma vida inteira de trabalhos, abrindo mão de possíveis filhos e casamento. Consequentemente, ao contrariar as perspectivas sociológicas dominantes de seu tempo, como pode ser observado no livro, o pensamento de Norbert Elias foi motivo de risos e dúvidas por parte de integrantes dos grupos de pesquisa por onde passou. Além de outros motivos, Elias só teve sua obra consagrada a partir da década de 70. E que hoje, acredito, atinge o estatuto de uma obra razoavelmente imorredoura.

 
< Anterior   Próximo >

Artigos já publicados

Bartleby e a potência do não.
Bartleby e a potência do não.
 

fotoUm dos mais instigantes contos de Herman Melville conta a história do escrivão Bartleby. No Brasil o texto já recebeu diversas edições, e uma das mais recentes foi publicada pela editora Cosac Naify, em edição conceitual, que obriga ao leitor uma postura ativa diante da obra. O Sarau Eletrônico publica a reflexão que o historiador Martin Kreuz realiza do conto e da edição da Cosac Naify sob a perspectiva da “potência do não”.
Leia mais...