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Vacina de sapo e outras lembranças de Zélia Gattai Imprimir E-mail

Morta aos 91 anos, neste livro, um dos últimos que escreveu, Zélia Gattai nos fala dos últimos anos de vida do seu marido, o escritor Jorge Amado.

VACINA DE SAPO E OUTRAS LEMBRANÇAS DE ZÉLIA GATTAI

Em 17 de maio de 2008 a literatura brasileira perdeu uma de suas principais escritoras. Zélia Gattai,vacina de sapo falecida aos 91 anos, acompanhou boa parte da história literária brasileira do século XX. Nascida em 1916, em São Paulo, era filha de uma família de imigrantes italianos, tendo seu pai emigrado para o Brasil a fim de participar da fundação da Colônia Cecília, uma experiência anarquista realizada no interior do Paraná em fins do século XIX – aspecto abordado pela escritora em seu primeiro livro, “Anarquistas, graças a Deus”.

Depois de se separar do seu primeiro marido, Zélia Gattai conheceu Jorge Amado, com quem viveu por longos e intensos 56 anos. E é justamente o final da vida de Jorge o tema de um dos seus últimos livros, “Vacina de Sapo e outras lembranças”, publicado pela Editora Record em 2005. Um livro extremamente sensível e que queremos sugerir aqui.

Memorialista e exímia prosadora, neste livro Zélia apresenta aspectos da sua convivência com Jorge nos últimos três anos de sua vida. Consagrado como escritor e intelectual, depois de travar amizades com personalidades de renome internacional e de se engajar em diversos movimentos de cunho cultural e político, tendo inclusive militado no Partido Comunista, já bastante idoso Jorge Amado se vê acometido por problemas cardíacos e oftalmológicos, que o afastam da intensa vida social que levava, bem como da leitura e da escrita. A partir de então Jorge entra em um processo de depressão que priva seus amigos e familiares do seu humor, da sua companhia. Passou a viver calado, com os olhos fechados, alheio. Em um trecho do livro, Zélia escreve: “Estávamos os dois sozinhos em casa, apenas os cãezinhos, ali, fiéis, Fadul e Morita, deitados em nossos colos. A mim faltava, sobretudo, a companhia de Jorge, sua vivacidade, seus divertidos comentários, sua mão apertando a minha”.

Vacina de Sapo e outras lembranças” não apresenta uma linearidade definida. Zélia relembra fatos curiosos da vida do casal e momentos importantes de toda a angústia e depressão que ambos viveram. E como todo relembrar, um fato leva a outro ainda mais distante no tempo, que se costura a outro, talvez mais próximo ao presente. Assim se faz a narrativa deste livro: é como estarmos diante de uma senhora, lúcida e enternecida, que nos conta uma história bonita, apesar de dolorosa, envolvendo-nos em seu novelo de memórias. Ao final, nossos olhos vermelhos e um peito apertado.

Apesar da dor da ausência, e de toda emoção que esta obra carrega, Zélia Gattai conseguiu apresentar momentos bastante cômicos, como quando conta sobre a vacina de sapo que lhe garantiram milagrosa e que lhe causou grande constrangimento. O livro traz ainda uma seleção de fotografias do casal, a maioria delas mostrando um Jorge Amado bastante debilitado.

Um livro agradável, sensível e que nos prova a qualidade desta escritora que teve em sua história de vida a matéria-prima da sua literatura.

Texto: Viegas Fernandes da Costa / Sarau Eletrônico.

Para quem quer mais:

Leia em nossa Biblioteca Digital a entrevista “Depois que Jorge se foi, não há nada que me assombre”, concedida ao jornal Folha de São Paulo de 04 de novembro de 2007.

 

 
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