A Moreninha: Resgatando os corações apaixonados |
As acadêmicas de Letras Aline da Silva e Caroline Maurer apresentam uma análise do romance A Moreninha, escrito por Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha é o marco inicial do romance romântico no Brasil. A análise aborda os elementos estruturais da narrativa: enredo, personagens, narrador, tempo e linguagem. A Moreninha: Resgatando os corações apaixonados Aline Fernanda Félix da Silva A Moreninha, primeiro romance romântico brasileiro, foi escrito por Joaquim Manuel de Macedo em 1844, segue uma tendência de romance-folhetim. O romance é constituído por uma linguagem coloquial do século XIX que possibilita o acesso a todos os leitores. Segundo Massaud, “o objetivo do romancista é obter a sensação de veracidade da sua história, submetendo o leitor aos efeitos da empatia”. (MASSAUD, p. 219) Além de possuir uma característica romântica, é carregado de adjetivos, “enquanto por bela avenida, orlada de coqueiros, se dirigiam à elegante casa”. (MACEDO, 22) O título do livro foi dado por Augusto em homenagem a sua amada Carolina, protagonista da história. Carolina tem 14 anos, é travessa e possui uma beleza de traços românticos e bem brasileiro. Augusto, por sua vez, é um estudante de medicina sagaz e namorador inconstante. O enredo da história inicia-se com a ida de um grupo de amigos estudantes à casa da avó de Felipe, D. Ana. Esta reside em uma ilha próxima ao Rio de Janeiro, onde passarão as festas de Sant’ana. Augusto, que se considera inconstante no amor, é desafiado por seus amigos: caso se apaixone por uma das moças da festa, escreverá a história de sua derrota, e se não se apaixonar, Felipe escreverá sobre a vitória de Augusto. Ao chegar à ilha Augusto conhece Carolina, por quem fica encantado, porém não admite seu amor por ela. Carolina era muito esperta e escutava as conversas de todos, inclusive as de Augusto. Em uma dessas conversas ela descobre que Augusto era o seu amado e que há sete anos haviam declarado amor eterno com trocas de presentes. O clímax do romance ocorre quando Carolina está na gruta e se revela mostrando o camafeu para Augusto. E como se espera em todo romance romântico, o final da história dá-se quando Augusto e Carolina estão de casamento marcado, e Augusto também já está com seu romance pronto e intitulado de: A Moreninha. O romance é escrito em terceira pessoa, com narrador onisciente, o qual está presente em toda a história e pode ser observado no capítulo 8 em que ele (Augusto) está na gruta com D. Ana, contando a história de seus amores. O tempo é linear e segue uma ordem cronológica. Entretanto, nos capítulos 7, 8 e 9 há um retrocesso ao passado, para um tempo mítico e psicológico.É uma narrativa que interliga lendas e romance. O tempo psicológico é de fácil identificação. Quando Augusto faz suas confissões para D. Ana: que há sete anos conhecera uma linda menina na praia, eles haviam ajudado um velho e este, agradecido, profetizou o casamento dos dois jovens e , através de um ato simbólico, casou-os com trocas de presentes. A menina ganhou um camafeu de Augusto, e esta o presenteou com uma esmeralda. Lamentavelmente, o mais novo casal separou-se sem saber o nome um do outro. Neste trecho podemos comparar a relação romântica com as dificuldades enfrentadas na história de Eros e Psique. A bela jovem encontrou o seu amado, porém não podia vê-lo e tampouco contemplar sua beleza. Através de um ato impensável, por uma curiosidade de ver a face de seu amado, Psique foi terrivelmente afastada de Eros, e essa separação causou muita dor e sofrimento para o casal. O amor venceu, depois de muita espera, e o destino fez com que Eros e Psique se unissem novamente, fazendo com que o casal desfrutasse de um amor eterno. Logo em seguida, percebe-se o tempo mítico, que pode ser identificado na hora em que D. Ana revela o mito da gruta e conta a história para Augusto: “as lágrimas de amor de uma índia apaixonada por um índio guerreiro, porém esse amor não era correspondido. Tais lágrimas originaram a água da fonte da gruta, ao beber da água, o guerreiro se apaixonara pela índia”. (MACEDO, p. 58) O romance ocorre em dois lugares: no Rio de Janeiro, em meio a uma sociedade urbanizada, e na Ilha de Paquetá, que simboliza o paraíso dos amantes. O nome da ilha não é citado no livro, através de pesquisas descobriu-se que é Paquetá. Como personagens principais, Augusto e Carolina formam o par romântico da história. Toda a narrativa gira em torno do casal; os outros personagens têm função secundária. Seria interessante salientar que não existe vilão neste romance e que o diálogo entre os personagens faz com que o leitor sinta a história num tempo real. Os personagens secundários são: os amigos de Augusto (estudantes divertidos), as amigas de Carolina (namoradeiras) e D. Ana, que é avó de Carolina e proprietária da casa na Ilha de Paquetá. As lendas desta narrativa ainda hoje influenciam a Ilha de Paquetá, o bairro mais seguro e tranquilo do Rio de Janeiro. Nesta ilha existem várias lendas e tradições como, a pedra da moreninha e a gruta dos amores. Atualmente, na pedra da Moreninha, onde Carolina esperava seu amado, os namorados escrevem seus nomes entrelaçados para que a Deusa do Amor os proteja, e atiram pedras para saber se haverá casamento. Se o casal arremessar a pedra e esta ficar sobre a pedra da moreninha o casamento irá acontecer logo e o amor será eterno, ainda hoje essa lenda atrai vários casais. Já na gruta dos amores, as lágrimas de Poranga se transformaram na fonte que lá existe. Acredita-se que quem beber da água com a pessoa amada terá amor eterno.1 Uma dúvida que percorre os leitores da obra e aqueles que frequentam a Ilha de Paquetá é se Moreninha realmente existiu. Supõe-se que a verdadeira identidade da moreninha seria Maria Catarina de Abreu Sodré, esposa de Joaquim Manoel de Macedo, pois se casaram após 10 anos de namoro. Apresentando uma narrativa não muito extensa e que proporciona uma leitura fácil e agradável, capaz de arrebatar os corações apaixonados de todos os leitores com todo seu encanto de lendas e tradições. A Moreninha lembra as histórias dos amores impossíveis, dos amantes que são separados injustamente, mas fala também dos destinos que não podem ser mudados, de um amor que não acaba e de corações apaixonados que voltam a bater mais forte quando estão perto um do outro. Bibliografia MACEDO, Joaquim Manoel de Macedo, A Moreninha.editora Avenida, 2005. 1A Moreninha foi adaptada para o cinema pela primeira vez em 21 de setembro de 1915, no Rio de Janeiro. O filme foi produzido em preto e branco, sem som, com Lydia Bottini e Oscar Soares nos papéis principais. |
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