Vacina de sapo e outras lembranças de Zélia Gattai |
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Morta aos 91 anos, neste livro, um dos últimos que escreveu, Zélia Gattai nos fala dos últimos anos de vida do seu marido, o escritor Jorge Amado. VACINA DE SAPO E OUTRAS LEMBRANÇAS DE ZÉLIA GATTAI Em 17 de maio de 2008 a literatura brasileira perdeu uma de suas principais escritoras. Zélia Gattai, Depois de se separar do seu primeiro marido, Zélia Gattai conheceu Jorge Amado, com quem viveu por longos e intensos 56 anos. E é justamente o final da vida de Jorge o tema de um dos seus últimos livros, “Vacina de Sapo e outras lembranças”, publicado pela Editora Record em 2005. Um livro extremamente sensível e que queremos sugerir aqui. Memorialista e exímia prosadora, neste livro Zélia apresenta aspectos da sua convivência com Jorge nos últimos três anos de sua vida. Consagrado como escritor e intelectual, depois de travar amizades com personalidades de renome internacional e de se engajar em diversos movimentos de cunho cultural e político, tendo inclusive militado no Partido Comunista, já bastante idoso Jorge Amado se vê acometido por problemas cardíacos e oftalmológicos, que o afastam da intensa vida social que levava, bem como da leitura e da escrita. A partir de então Jorge entra em um processo de depressão que priva seus amigos e familiares do seu humor, da sua companhia. Passou a viver calado, com os olhos fechados, alheio. Em um trecho do livro, Zélia escreve: “Estávamos os dois sozinhos em casa, apenas os cãezinhos, ali, fiéis, Fadul e Morita, deitados em nossos colos. A mim faltava, sobretudo, a companhia de Jorge, sua vivacidade, seus divertidos comentários, sua mão apertando a minha”. “Vacina de Sapo e outras lembranças” não apresenta uma linearidade definida. Zélia relembra fatos curiosos da vida do casal e momentos importantes de toda a angústia e depressão que ambos viveram. E como todo relembrar, um fato leva a outro ainda mais distante no tempo, que se costura a outro, talvez mais próximo ao presente. Assim se faz a narrativa deste livro: é como estarmos diante de uma senhora, lúcida e enternecida, que nos conta uma história bonita, apesar de dolorosa, envolvendo-nos em seu novelo de memórias. Ao final, nossos olhos vermelhos e um peito apertado. Apesar da dor da ausência, e de toda emoção que esta obra carrega, Zélia Gattai conseguiu apresentar momentos bastante cômicos, como quando conta sobre a vacina de sapo que lhe garantiram milagrosa e que lhe causou grande constrangimento. O livro traz ainda uma seleção de fotografias do casal, a maioria delas mostrando um Jorge Amado bastante debilitado. Um livro agradável, sensível e que nos prova a qualidade desta escritora que teve em sua história de vida a matéria-prima da sua literatura. Texto: Viegas Fernandes da Costa / Sarau Eletrônico. Para quem quer mais: Leia em nossa Biblioteca Digital a entrevista “Depois que Jorge se foi, não há nada que me assombre”, concedida ao jornal Folha de São Paulo de 04 de novembro de 2007.
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