A Estética da Mulata na Literatura Brasileira |
Neste breve ensaio a jornalista e pós-graduanda em Estudos Literários Magali Moser analisa a reprodução estereotipada da mulata na Literatura Brasileira. A ESTÉTICA DA MULATA NA LITERATURA BRASILEIRAMagali Moser Boca carnuda, cintura fina, seios fartos, quadril avantajado e comportamento fogoso. A figura de mestiças tornou-se um símbolo do Brasil por trás do padrão de beleza e de uma imagem sexualizada. O estereótipo da mulata na literatura brasileira reforça o discurso de uma mentalidade preconceituosa como se elas fossem dotadas apenas desses atributos físicos e sensuais. Personagens como Rita Baiana, de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, a Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães ou Gabriela, de Jorge Amado, consolidam concepções dominantes do pensamento brasileiro da época e demonstram como os autores têm dificuldade de escapar do ideal social e estético do branqueamento. As narrativas suscitam a discussão sobre o belo e os padrões de estética predominantes. Pioneiro na apresentação das reflexões sobre os conceitos de belo, Platão identificava a beleza como o bem, a verdade, a perfeição. Já Aristóteles, acreditava que o belo é inerente ao homem já que a arte é uma criação particularmente humana. Além disso, o subjetivismo humano permite o julgamento pessoal e individual sobre o que é o belo. Kant, em A Crítica da Faculdade do Juízo diz que existem quatro características para um juízo estético:
O processo de construção da identidade da mulata, numa sociedade onde a beleza sempre aparece relacionada a um único padrão, faz a mulher negra assimilar aquele modelo como recurso obrigatório e necessário para ser aceita na sociedade. Sem perceber, ela se submete muitas vezes à ditadura da beleza. Para Kant, “belo é o que agrada independentemente de conceito”. Considerando a dificuldade de fornecer ao belo um conceito universal e a profunda carga subjetiva desta definição, a estética desponta como sentimento de perfeição. Romances disseminam um comportamento declaradamente preconceituoso e racista contra a mulher negra, reforçando uma imagem negativa defendida pela ideologia do embranquecimento. Em Preconceito de Cor e a Mulata na Literatura Brasileira, Teófilo de Queiroz Júnior aborda o modo como a sociedade projetou nas produções artísticas aspectos da sua organização social, além de aperfeiçoar a idéia da literatura como conservadora da ordem social vigente. Ao verificar como o preconceito de cor se perpetua na literatura, o autor mostra que a mulata aparece geralmente como personagem secundária das histórias e que seu estereótipo é criado através da descrição de características físicas, quase caricatural.
Mulatas voluptuosas aparecem associadas ao desejo carnal dos homens. Por isso, a exaltação da beleza da mulata evidencia a sutileza do preconceito ao qual a mulata é vítima. A utilização do estereótipo da mulher negra tem origens no período colonial, mas atravessa os tempos como reflexo do controle social de uma época. O machismo do homem branco em torno da mulata exemplifica as relações de dominação-subordinação herdada por um sistema escravocrata. Mostra como a mulher branca é voltada para o papel de esposa e a mulher negra com forte estigma sexual cujo corpo serve de espaço de prazer masculino. Bibliografia KANT, Emmanuel – Crítica da Faculdade do Juízo - Ed. Forense Universitária, 1995 |
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