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As Confissões Prematuras de Salim Miguel Imprimir E-mail

Aos que duvidam da qualidade da literatura produzida em Santa Catarina, seja em seus aspectos estéticos, seja na sua proposta de vanguarda, ler “As Confissões Prematuras”, de Salim Miguel, é passo certo para que mude de opinião. Publicada em 1998 pela editora Letras Contemporâneas, de Florianópolis, esta novela ousa na estrutura e naquilo que tem a dizer, inscrevendo seu autor entre os grandes escritores da prosa contemporânea.

As Confissões Prematuras de Salim Miguel

Para quem dúvida da qualidade da literatura produzida em Santa Catarina, seja em seus aspectoscapa estéticos, seja na sua proposta de vanguarda, ler “As Confissões Prematuras”, de Salim Miguel, é passo certo para que mude de opinião. Publicada em 1998 pela editora Letras Contemporâneas, de Florianópolis, esta novela ousa na estrutura e naquilo que tem a dizer, inscrevendo seu autor entre os grandes escritores da prosa contemporânea.

Chama a atenção, em primeiro plano, a caracterização dos personagens, aparentemente três (o Gordo, o Magro e a Mulher), mas que podem vir a ser mais, incluindo o autor e o leitor. A história é simples. Após ser atropelado por uma mulher, um homem magro (Renato) acorda do coma completamente desmemoriado. Ao receber alta do hospital, passa a ser inquirido por um sujeito gordo para que confesse ter mantido um caso amoroso com sua esposa (a motorista responsável pelo atropelamento). Tendo Renato perdido a memória, pede que o Gordo lhe explique sua história, seu passado. Como isto não acontece, Renato tenta inventar sua própria história para satisfazer a curiosidade do Gordo e livrar-se deste. No entanto, o que importa mesmo neste livro de Salim Miguel não é tanto a história, mas a trama e as possibilidades de literatura que esta oferece.

Com uma prosa não-linear, densa e repleta de alegorias, Salim Miguel consegue construir um efeito de verossimilhança que joga o leitor na trama, transformando-o também em personagem.

As Confissões Prematuras” é, fundamentalmente, uma obra metaliterária ao estilo de “Se Um Viajante em Uma Noite de Inverno”, de Ítalo Calvino. Ao contar a história do Gordo, do Magro e da Mulher, Salim está pensando e questionando o fazer literário, a relação do autor com seus personagens, com sua escrita e com o leitor, exigindo que este último abandone sua condição passiva e assuma posições diante da trama. Não é por acaso que o narrador afirma à página 62: “Mais que minha vontade em discutir tais aspectos, penso que para que tal ocorra (desvelar a possível presença oculta do meu território literário) existe exige-se uma participação mais ativa do leitor, que para além do saber ler (...), precisa saber se debruçar sobre um texto e penetrá-lo até o mais íntimo.

É neste imperativo que reside a maior qualidade deste livro: “As Confissões Prematuras”, muito além de ser lido, exige ser pensado e debatido.

Texto: Viegas Fernandes da Costa / Sarau Eletrônico / Julho de 2008

 
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