Última alteração: 2016-10-04
Resumo
A não-adesão ao tratamento medicamentoso da Hipertensão Arterial Sistêmica é um problema grave e prevalente na Atenção Primária à Saúde, o que fomentou pesquisas sobre diferentes metodologias para melhorar a adesão. Entretanto, não há estudos brasileiros de intervenções, aplicáveis no Sistema Único de Saúde, que forneçam evidências de melhora da adesão ao tratamento farmacológico da hipertensão. O objetivo deste trabalho é avaliar a efetividade de uma intervenção psicossocial na melhoria da adesão ao tratamento medicamentoso da hipertensão na atenção primária, por meio de um ensaio clínico randomizado de cunho pragmático. Um total de 234 voluntários com hipertensão por pelo menos seis meses foram recrutados de dez equipes da Estratégia de Saúde da Família, em Blumenau/ Santa Catarina. Eles foram randomizados em uma proporção de 1:1 para o grupo de intervenção (GI) e controle (GC). O GI participou de uma abordagem psicossocial, que consiste em seis encontros dialógicos focados em cenas de tomadas de medicamentos e conduzidos por profissionais de saúde previamente capacitados. Ademais, foram realizadas nove visitas domiciliares estruturadas por Agentes Comunitárias de Saúde. A adesão foi estimada por questionários validados, bem como a pressão arterial, em diferentes momentos da intervenção e após o seu encerramento. O GC recebeu apenas os cuidados habituais. Os dados foram analisados por intenção de tratamento. A análise comparativa entre o GI e o GC revelaram diferenças estatisticamente significantes nas medidas de adesão (GI 65,7% contra GC 40,4%, p=0,005), níveis de pressão arterial sistólica (GI 124,77, DP 13,33 contra GC 136,0, DP 23,01, p=0,05) e diastólica (GI 76,77, DP 8,73 contra GC 83,63, DP 11,58, p=0,025), e mudança comportamental para melhor estado de adesão no monitoramento pós-intervenção (GI 37,1% contra GC 15,4%, p=0,029). As análises do GI mostraram diferenças estatisticamente significantes nas taxas de adesão (p=0,038), na mudança de comportamento para melhor estado de adesão (p=0,029), nos níveis de pressão arterial sistólica (p=0,001) e diastólica (p=0,003) entre o início do estudo e o último monitoramento. Não houve variações estaticamente significantes nas taxas de adesão, na mudança de comportamento de adesão e nos níveis de pressão arterial no GC. Logo, a intervenção se mostrou efetiva, pois aumentou a adesão ao tratamento medicamentoso da hipertensão e promoveu melhor controle da pressão arterial. Além de factível, visto que apresenta baixo custo e potencializa o uso dos recursos materiais e humanos dos serviços de saúde da atenção primária.
Palavras-chave: Ensaio Clínico; Adesão à medicação; Hipertensão Arterial; Atenção Primária à Saúde; Saúde da família.