Última alteração: 2016-09-22
Resumo
A dissertação realizada teve como objetivo identificar como as mulheres Mbyá-Guarani na aldeia vy’a, localizada na cidade de Major Gercino, situada na região noroeste da Grande Florianópolis (SC) se organizam em torno da alimentação. Utiliza-se o método etnográfico, através da realização de um trabalho de campo e do cruzamento de diferentes fontes de pesquisa. Procura-se identificar e analisar em que consiste a alimentação dos Mbyá-Guarani localizados em Major Gercino, como se alimentam, quais as transformações ocorridas antes e depois da mudança para a nova aldeia, a relação da comida com os recursos vinculados ao meio-ambiente, tendo em vista a questão da sua identidade e soberania alimentar. Por outro lado buscou-se identificar também qual o papel da mulher na obtenção dos alimentos e sua preparação para a família. Através do levantamento de campo e da literatura pertinente sobre as mulheres Mbyá-Guarani observou-se que elas mantêm na memória o modo de fazer dos alimentos tradicionais. No momento inicial da ocupação da aldeia vy’a Mbyá-Guarani, em abril de 2009, os indígenas tiveram dificuldades de preservar a sua maneira de viver porque necessitavam reorganizar o seu novo espaço, retomando a plantação e a maneira de comer com base nas suas referências tradicionais. O objetivo uma vez na nova terra é recuperar elementos do seu antigo modo de vida - que já haviam se perdido devido às limitações ambientais, por habitarem a aldeia itaty, no Morro dos Cavalos, Palhoça (SC) lugar com muitas pedras e inapropriado para a continuidade de algumas práticas cotidianas - e começar uma vida nova com a preservação dos recursos necessários para retomarem seu modo de vida e de alimentação tradicional. A partir daí, foi retomado o plantio dos alimentos tradicionais nesses sete anos de vida na nova aldeia. Na atualidade as plantações começaram a suprir as necessidades alimentares do grupo. Estas ações empreendidas pela população podem contribuir para a segurança alimentar e continuidade da identidade Mbyá-Guarani. A partir da memória do grupo, em especial das mulheres, que são as responsáveis pela sua alimentação, o sistema alimentar dito por eles tradicional pode ser vivido na nova aldeia. Paralelos a esses aspectos tradicionais desejados coexistem outros da atualidade já incorporados. O grupo Mbyá-Guarani permanece organizado em família adaptando o cotidiano para dar continuidade há uma série de valores, símbolos e sentidos sociais e cosmológicos que os identificam. A constante busca do alimento em novas terras dentro desse território já identificado é elemento da mobilidade característica dos Mbyá-Guarani. A coerência entre discurso e prática traz significado a alimentação e a produção do alimento faz parte da cosmologia de ser Mbyá-Guarani pertencente ao território. A terra é indispensável à sobrevivência, mas o território dá sentido ao grupo pela resistência de permanecer.