Nas últimas décadas os Inventários Florestais Nacionais (IFN) vêm desempenhando a função de prover uma gama de informações que retratam não só estoques de madeira, mas aspectos estruturais, florísticos e estoques de biomassa das florestas nativas. Em resposta a esta demanda, o Inventário Florístico-Florestal de Santa Catarina (IFFSC), inserido no programa IFN-Brasil, vem sendo conduzido. Com base no contexto histórico e social de Santa Catarina, e nos dados qualitativos e quantitativos coletados em 145 Unidades Amostrais do IFFSC na Floresta Mista com Araucária, adaptamos e aplicamos o conceito de naturalidade, amplamente utilizado na Europa oriental, embora nunca aplicado no Brasil. O conceito está relacionado ao grau em que algo está alterado do seu estado original. Assim, a naturalidade pode ser ilustrada por um gradiente que estentede-se do menos ao mais natural. Buscamos por indicadores quantitativos de naturalidade com poder de sintetizar atributos estruturais, bem como processos e aspectos ecológicos da Floresta com Araucária de Santa Catarina. De 16 indicadores potenciais elencados com base na literatura, seis foram selecionados. De posse dos indicadores, selecionamos ‘florestas de referência’ (Unidades Amostrais), as quais foram consideradas como mais naturais e serviram de base para a criação de dois índices quantitativos de naturalidade. Os índices foram gerados a partir de duas abordagens: (i) distância euclidiana do vetor gerado pelos seis indicadores [das Unidades Amostrais ordinárias] escalados para o intervalo 0-1 até o vetor gerado para dada floresta de referência; (ii) distância euclidiana do vetor gerado pelos seis indicadores [das Unidades Amostrais ordinárias] escalados para o intervalo 0-1 até o vetor gerado para a ‘floresta de referência teórica’ com máxima naturalidade, expresso por n(1,1,1,1,1,1). Os índices de naturalidade foram escalados para o intervalo 0-1, onde 0 e 1 representam a naturalidade mínima e máxima, respectivamente. A maioria dos remanescentes de Floresta com Araucária de Santa Catarina apresentou naturalidade média (N=0,47, desvio-padrão de 0,09), levando em consideração a referência teórica. Quando comparados às florestas de referência observadas, os remanescentes apresentaram média de N=0,59 (desvio-padrão de 0,14). As bacias hidrográficas dos rios Chapecó e Timbó apresentaram florestas menos naturais que a média, logo, merecem atenção em futuras ações e políticas de conservação, restauração e manejo. Ambos os índices foram capazes de ilustrar e sintetizar relevantes aspectos da diversidade estrutural das florestas, os quais estão intimamente ligados à biodiversidade. A abordagem proposta parece ter potencial para ser adaptada aos diversos contextos – ecológicos e sociais – das florestas nativas do Brasil. Os dados provenientes do IFN-Brasil são uma rica matéria prima para o desenvolvimento de novos índices de naturalidade, os quais podem se tornar ferramentas úteis para avaliação do grau de conservação de remanescentes de florestas nativas dentro do programa IFN-Brasil.